Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre Desordem Urbana, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O difícil dia-a-dia de quem precisa usar as calçadas

Duilo Victor

No cotidiano do carioca, conviver com o medo da violência não é mais o único obstáculo ao sair de casa. Basta um breve passeio por bairros movimentados, como Copacabana, Ipanema e outros trechos da Zona Sul, e são milhares as armadilhas - principalmente para a população idosa que não pára de crescer na cidade - criadas em parte pela má-conservação das ruas, mas também pela falta de educação de cariocas. As calçadas foram invadidas por bicicletas, triciclos e viraram até improvisado depósito de mercadorias. Caçambas usadas como depósitos de entulho também entram na lista dos vilões.

Entre as pragas urbanísticas espalhadas pelo Rio, o uso indiscriminado de fradinhos - espécie de cones de concreto para impedir estacionamento irregular de veículos sobre a calçada - é sintoma de uma cidade que não é solidária com quem anda a pé.

A contabilista Luciana Bernardi, 27 anos, leva todos os dias o filho de 1 ano e 4 meses à creche na Rua Barata Ribeiro. Não fossem os enormes triciclos de entregadores e fradinhos bem no meio de rampas de acesso a deficientes, a corrida de obstáculos poderia ser um passeio mais prazeroso:

- Os entregadores de água, com caçambas enormes que ocupam quase toda a calçada, são os que mais incomodam. Para andar com carrinho de bebê, como tenho de fazer diariamente, a falta do revestimento nos trechos com pedras portuguesas atrapalham bastante. Esta semana, minha vizinha de 82 anos fraturou o braço ao cair em um destes buracos.

O arquiteto e urbanista Canagé Vilhena, diretor da ONG Centro de Defesa das Cidades e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), acredita que, para o fim dos problemas de conservação das calçadas, o melhor é acabar com as pedras portuguesas. É mais barato, segundo Vilhena, construir e conservar uma calçada de cimento ou concreto, mas propõe solução menos radical para trechos onde as pedras portuguesas são parte do tombamento histórico, como ocorre em Copacabana:

- O maior problema do calçamento em pedra portuguesa usado no Rio é a falta de revestimento com resinas que impedem a ação das chuvas e os desníveis que provocam tombos. Há trechos da Rua Garcia D'Ávila, em Ipanema, onde a iniciativa privada fez o revestimento, uma ótima solução para calçadas tombadas, como na Avenida Atlântica.

Moradora de Copacabana, a psicóloga Elena Waisenberg, 67 anos, pensou já ter vivido sua pior história quando foi agredida por assaltantes que levaram seu carro na esquina da Rua Barata Ribeiro com a Paula Freitas. Mas, há quatro meses, ficou ferida outra vez ao tropeçar em um obstáculo na calçada da mesma Barata Ribeiro, desta vez na esquina com a Figueiredo de Magalhães. Machucada mais uma vez, segundo a moradora por um comerciante que usou o chão da rua para empilhar caixas, revoltou-se com o que considera um descaso da fiscalização municipal.

- Se o Rio é a cidade dos idosos e Copacabana o bairro com o maior concentração nesta faixa de idade, a cidade está jogada às traças - reclama a psicóloga. - Se olho para o chão a fim de desviar das calçadas esburacadas com falhas nas pedras portuguesas, bato nas placas mal colocadas. Se dou atenção às placas tropeço.

A poucos metros da psicóloga, a aposentada Nelma Drummond, 68 anos, destacou, depois de contar sobre as várias vezes em que tropeça nas calçadas da Zona Sul, que a má-conservação se deve a legislação do município:

- A prefeitura obriga os condomínios a cuidarem dos trechos de calçada em frente aos prédios. A ver o estado das marquises da cidade, não é de se esperar que o calçamento fique melhor.

FONTE: http://jbonline.terra.com.br - 18/09/07

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