Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre Desordem Urbana, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ruas do Rio terão mais 100 radares até o fim do ano

Marcello Gazzaneo

A advogada Letícia Pompeo, 29 anos, não esquece a cena. Parada em um sinal na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, um menino se aproximou da janela do carro, com um vidro na mão. Em segundos, levou todo o dinheiro que estava na carteira e deixou traumas. Por conta do assalto, Letícia não anda mais com os vidros abertos e, toda vez que pode, não fica parada em sinais. A rotina da advogada, agora, está prestes a ganhar um componente nada agradável. Até o fim do ano, a prefeitura deve instalar 100 radares para multar o avanço de sinal. Entre os pontos escolhidos, estão alguns dos cruzamentos mais perigosos da cidade.

Pela previsão da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio), que já iniciou a instalação dos radares, pontos como o cruzamento da Rua Mário Ribeiro com a Avenida Bartolomeu Mitre, no Leblon, ou das ruas Torres Homem e Souza Franco, em Vila Isabel, um dos acessos ao Morro dos Macacos, terão radares. Os sinais serão monitorados, de acordo com a CET-Rio, até mesmo nas proximidades do Complexo do Alemão, área conflagrada por constantes confrontos entre traficantes e a polícia. Ali, está prevista a colocação do equipamento na Estrada do Itararé, a menos de 200 metros da entrada da Favela da Grota.

Num levantamento informal do Jornal do Brasil, pelo menos 13 pontos dos 100 escolhidos pela CET-Rio (13% do total) oferecem riscos diários aos motoristas.

- Não tem cabimento ficar parada num sinal às duas horas da manhã, esperando para ser assaltada - desabafa Letícia, inconformada com a decisão da prefeitura. - Acho que a medida é muito bonita no papel, porque realmente a gente não devia passar um sinal vemelho. Mas sem segurança não tem jeito. As pessoas só avançam o sinal por medo da violência.

A notícia da instalação dos radares colocou Letícia ainda mais refém do trauma imposto pela violência. Entre os 100 pontos que receberão a fiscalização eletrônica está o cruzamento da Avenida das Américas com a Rua Arthur Lício Pontual, junto ao Condomínio Novo Leblon, na Barra. Ali, de acordo com a advogada, é um dos pontos mais visados pelos assaltantes.

- Não sei o que fazer. Esse retorno em frente ao Novo Leblon, que é o que eu sempre pego para ir para casa, é considerado um dos que mais têm assaltos na Barra - conta Letícia, com ar resignado.

Gerente de Informações de Tráfego da CET-Rio, Alexandre Sansão diz que a decisão de instalar os radares para reprimir os avanços de sinais justifica-se pela violência no trânsito da cidade. Pelo levantamento estatístico da companhia, os sinais escolhidos são pontos com altos índices de acidentes, grande parte com mortes.

- A meta central da prefeitura é reduzir as infrações e os conseqüentes acidentes com vítimas nesses cruzamentos em pelo menos 50% - justifica Sansão.

A escolha, no entanto, não levou em consideração os índices de violência desses locais, conforme admite o gerente da CET-Rio.

- Acreditamos que um problema grave de violência, como assaltos, não pode ser mitigado com a omissão em outro problema grave de violência, que são os acidentes de trânsito - argumenta Alexandre Sansão. - Além do mais, todos os cruzamentos em questão têm ou terão câmeras que poderão auxiliar as polícias caso elas necessitem. O uso adequado das informações poderá fazer desses cruzamentos os mais seguros em todos os aspectos.

Não é o que pensa quem precisa passar por cruzamentos perigosos todos os dias. Depois de ter sido perseguida por um carro do Leblon até as proximidades do acesso à Auto-Estrada Lagoa-Barra, a professora universitária Michele Ribeiro, 31, não tem dúvidas. Se naquela noite, há dois anos, o sinal no cruzamento entre a Mário Ribeiro e a Bartolomeu Mitre estivesse fechado, ela avançaria.

- Vou ter de decidir entre a multa e a minha vida. Ou mudar meu caminho - desabafa a professora. - Sei que o problema da violência no trânsito é grave no Rio. Mas a criminalidade também é. Realmente não sei aonde vamos parar.

Fonte: Jornal do Brasil - 27.08.07

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