Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre Desordem Urbana, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

sábado, 12 de julho de 2008

Policiais militares do Rio de Janeiro admitem que falta preparo

E a polícia que mata um inocente? O caso do menino João, no Rio de Janeiro, expôs a falta de preparo de quem deveria sair às ruas para proteger a população. A repórter Beatriz Thielmann conversou com dois PMs. Eles admitem que não recebem treinamento adequado.

“Quantas vezes você treinou para usar uma arma?”, pergunta a repórter a um policial militar. “Uma, com cinco tiros”, responde ele.“Não dei muitos tiros, não. Teve armas que só dei apenas um tiro. Calibre 12 eu dei um tiro. Com uma submetralhadora, eu dei um tiro só”, lembra outro PM.

Trata-se de dois policiais militares que têm medo de serem identificados. Eles temem os superiores e as ruas. Para o trabalho do dia-a-dia, dizem que não foram preparados.

“O que aconteceu quando você saiu para rua pela primeira vez?”, pergunta a repórter. “Fiquei muito nervoso, porque não sabia como me comportar”, responde o policial.

“Alguma vez falaram para você como deve se abordar um motorista ou um carro na rua?”, continua a repórter. “Só teoria, só teoria. Na teoria, falaram, mas na prática não”, afirma o policial.

Na teoria, a prática deveria ser assim: o motorista suspeito sai do carro com as mãos na cabeça e o policial deve atirar só se houver reação – se o suspeito atirar. As técnicas de abordagem são ensinadas aos futuros policiais no terceiro mês do curso de formação, que tem duração de oito meses, mas não foi isso que as câmeras de segurança de um prédio registraram na noite de domingo (6).

As imagens confirmam que não houve nenhum tiroteio com bandidos. A mãe de João Roberto encosta o carro para dar passagem à polícia, mas o cabo e o soldado se aproximam e disparam as armas. Falta de treinamento adequado; policiais que vão para as ruas sem saber sequer como lidar com as armas que carregam – alguns especialistas consideram esses os principais motivos que têm provocado tragédias. “Temos que treinar policiais para situações de enfrentamento e para situações de perseguição. Esse treinamento não se faz assim, em dez minutos. É um treinamento que exige repetição, muitas. Exige muitas horas. Qual o benefício? Uma redução nas mortes não-desejadas”, observa o sociólogo Gláucio Soares, do Centro de Estudos de Segurança da Universidade Cândido Mendes.

O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanuchi, afirmou que é preciso repensar a polícia. “Não é possível tolerar a idéia de atirar primeiro e depois ir verificar se alguém morreu e quem morreu”, afirmou.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que o governo vai investir mais nos treinamentos dos policias e que os dois envolvidos no crime serão expulsos da Polícia Militar.

“Expulsar, expulsar. São dois assassinos”, disse o governador.

Na tarde de terça-feira (8), 200 taxistas fizeram uma carreata para protestar. São colegas do pai do menino João Roberto, Paulo Roberto Soares. Na capela, durante o velório, ele fez mais um desabafo.
“Se a instituição está falida, vamos melhorar a instituição, mas não botar monstro na rua para matar a gente. Não é isso que a gente quer. A gente quer proteção, a gente não quer ser morto”, protestou o pai do menino, Paulo Roberto Soares.

FONTE: http://bomdiabrasil.globo.com/Jornalismo/BDBR/0,,AA1684810-3682-852686,00.html – 09/07/2008

Um comentário:

Bruno Duarte disse...

O que muitos imaginavam se comprova com a referida notícia. Acredito que um dos grandes desafios do Estado seja garantir nível mínimo (aceitável) de prestação de serviços sem que os mesmos entrem primeiro em colapso, virem notícia e em seguida mobilizem os responsáveis para alguma mudança. A questão que coloco é: considerando que as atividades militares, principalmente as voltadas para a segurança pública, necessitam de um alto grau de adestramento; por que o treinamento intensivo e constante não está estabelecido como um valor ou rotina nessas instituições?