Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre Desordem Urbana, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Envelhecimento saudável

Entrevista do Dr. Drauzio Varella ao Dr. Jacob Filho

Dr. Wilson Jacob Filho é médico e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Envelhecimento saudável

No início do século XX, na Europa desenvolvida, a expectativa de vida ao nascer andava ao redor dos 40 anos. Naquele tempo, homem ou mulher que atingissem essa idade provavelmente estariam se aproximando do final de suas vidas. Hoje, aos 40 anos, eles são considerados jovens. A expectativa de vida praticamente dobrou nesses países no decorrer do século XX e isso trouxe consigo uma série de problemas socioeconômicos. São muitos os que chegam aos 70, 80 anos em condições físicas, às vezes, muito boas, mas aposentados desde os 50 anos, obrigando a Previdência Social a manter o pagamento dos benefícios por um período que não havia sido previsto. Morrer mais tarde criou também problemas sérios no relacionamento familiar, especialmente no que se refere a como lidar com um parente de idade mais avançada. Atualmente, difícil a família que não tenha alguém com 70, 80 anos em condições físicas nem sempre ideais. No entanto, não são poucas as pessoas que envelhecem e chegam aos 80 em plena atividade sem passar pelo processo de decrepitude física e intelectual que tanto nos assusta.

O que é envelhecimento saudável?

Drauzio - É possível existir um envelhecimento saudável?

Wilson - Não só é possível, como hoje é nosso objetivo encontrar os caminhos que levam ao envelhecimento saudável. Na verdade, ele é produto de várias ações que culminam com a expectativa de vida alongada, mas em condições de exercer todos os papéis que o indivíduo exercia ou gostaria de exercer dentro da sociedade. O envelhecimento saudável impõe não só boa condição física e mental, como também a inclusão social que lhe permita desempenhar tais funções.

Drauzio - O conceito de velhice variou com o tempo. Machado de Assis, por exemplo, em obras escritas há pouco mais de cem anos, referia-se ao velho de 50 anos, quando atualmente homens de 60 praticam "windsurf". Existe um conceito médico que caracterize a velhice?

Wilson - O conceito etário, isto é, exclusivamente baseado na idade cronológica, é no mínimo temporário e vai se modificando com o passar do tempo, tanto que a Organização Mundial de Saúde reconhece não só o idoso, mas criou uma nova terminologia, "muito idoso" ou "very old", para designar o indivíduo que chega aos 80 ou 85 anos de idade.

Drauzio - Segundo o critério da OMS, quem é idoso?

Wilson - Nos países desenvolvidos, é o indivíduo a partir dos 65 anos e, nos países em desenvolvimento, a partir dos 60 anos. No Brasil, portanto, é classificado como idoso quem completa 60 anos de vida. Como se trata de um critério arbitrário, buscamos determinar uma condição funcional através da qual se consiga identificar as possibilidades de cada pessoa em cada faixa etária e entender se são normais ou estão agravadas por algum processo patológico. Delimitar essa condição é fundamental para que se possa afastar de vez o fantasma de que o idoso tem obrigatoriamente limitações funcionais exuberantes e que aos jovens seja imputada uma capacidade funcional absolutamente excepcional. Esses extremos próprios da visão popular são maléficos e prejudiciais para os dois segmentos etários.

Drauzio - Há 50 anos, o paradigma da medicina era aconselhar as pessoas de mais idade a fazerem repouso. Era clássica a imagem do velho de pijama, sentado na poltrona da sala, sem fazer qualquer esforço, sem andar, sem ir sequer à padaria. Esse paradigma foi totalmente rechaçado pela medicina atual…

Wilson - Não só rechaçado como também contrariado. Hoje, entendemos que o envelhecimento ativo conduz ao envelhecimento saudável. Na verdade, essas expressões são quase sinônimas quando empregadas na literatura e nas recomendações cotidianas. O envelhecimento ativo prioriza a atividade física não só após o indivíduo ter atingido faixa de idade mais avançada, mas durante todo o processo. Não se admite mais um período de sedentarismo em que a atividade física seja interrompida por volta dos 20, 25 anos, quando ele se torna um profissional atuante e só seja retomada mais tarde, como forma de tratamento porque já adoeceu. Além disso, é importante manter atividade social, profissional, afetiva e amorosa em todos os sentidos. O idoso precisa compreender que só pertencerá à comunidade se agir como ela age. Caso contrário, será dela excluído naturalmente.


Drauzio - Que tipo de benefício traz manter a atividade física no decorrer de toda a vida e especialmente depois dos 60 anos?

Wilson - A atividade física faz com que o organismo adapte-se a um patamar maior de exigência e de capacidade de resposta. Se olharmos o envelhecimento como um processo contínuo que vai da fase de desenvolvimento máximo até o fim da vida, veremos que ele se caracteriza pela limitação, pela perda progressiva da capacidade de adaptar-se, de responder a uma sobrecarga, seja do cotidiano - correr, subir uma escada, carregar um peso - seja uma sobrecarga artificial ou incomum, como uma doença ou condições climáticas excepcionais. Por isso, a gripe preocupa mais nos idosos do que nos jovens e uma onda de calor mata mais os velhos do que os moços. Na medida em que a atividade física faz com que a pessoa, apesar da idade mais avançada, consiga preservar a capacidade de adaptação funcional, seu organismo terá respostas mais próximas das encontradas nos indivíduos de menos idade, isto é, preserva-se a capacidade de dar resposta à demanda funcional.

Assista ao Video "Tempo: o dono da vida" - 26/11/2006 da série de reportagens do Fantástico que trata da depressão e do uso de antidepressivos na terceira idade.

Fonte: Globo.com

Nenhum comentário: