Tudo porque pobres motoristas que fazem de nossas vias pistas de corrida vinham sendo injustiçados por máquinas, apetrechos eletrônicos que os indicavam para receber multas por excesso de velocidade, quando o papel das autoridades e da parafernália que está à sua disposição no trânsito devem servir para conscientizar, para educar e não para punir.
A legislação de trânsito fala em punição via multas. Mas a lei, ora a lei! Quem tem um automóvel e corre desabridamente, sem respeito aos limites impostos, é um pobre coitado que o máximo que conseguiu foi alfabetizar-se, às vezes tirar até um curso superior, e também uma carteira de motorista. E comprar um carro num país em que muita gente não tem nem sapatos. Sabe dirigir, mas muito mal, e seu entendimento das regras de trânsito servem para saber quando pode burlar a lei e o guarda e quando não pode. Precisa ser conscientizado, ensinado, orientado com luvas de pelica sobre as regras de trânsito para ver se com elas se acostuma e se conforma em obedecê-las. Nada de punir, pois infrações de trânsito, como o excesso de velocidade, o máximo que podem causar são desastres em que se espatifam veículos, pessoas e algumas vão para o segundo andar. Muitas destas pela infelicidade lotérica de estarem nas proximidades da corrida consentida.
A partir da decisão de manter placas com avisos bem visíveis da velocidade permitida e da presença de radar nas proximidades, já podemos esperar outras providências visando a nobre intenção de educar, conscientizar cidadãos. Logo poderemos ter nas ruas das cidades e, se possível, até nas estradas, placas avisando: não furte nem roube que tem um guarda por perto; não mate aqui porque a polícia está nas proximidades.
Vivemos, de fato, num país da permissividade. Aqui tudo pode e aos infratores das leis é admissível que declarem desconhecê-las. Ou que infringiram aqui e ali porque ninguém avisou que uma autoridade ou um instrumento tecnológico estava próximo e poderia tomar conhecimento e aplicar uma punição. No caso do trânsito, uma multa “merreba”, que não raro poderia ser evitada, bastando para isso usar a carteira. A do dinheiro ou a que responde à pergunta: “Sabe com quem está falando?”.
Essa cultura da impunidade, da permissividade, do perdão generalizado para os crimes considerados menores, mesmo os de trânsito que matam e aleijam milhares de pessoas, não seria responsável pela assustadora insegurança em que vive a sociedade brasileira? Não seria interessante a gente começar a pensar em aplicar uma política de tolerância zero. Infração de lei é infração e deve ter uma paga. Terá de ser, pelo menos, aquela que cominam os nossos brandos códigos. Num país em que se pune o motorista infrator, é possível que, um dia, mesmo que num futuro distante, sejam punidos os assassinos, os traficantes, os seqüestradores e até os políticos ladrões.
Fonte: Editorial do jornal O Estado do Paraná